sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Tribo Xetá

 Na Sociedade Xetá, assim como nas demais sociedades tribais no Brasil, homens e mulheres desempenham atividades baseadas na reciprocidade, exigindo portanto a complementariedade. A organização social se estrutura no sistema de parentesco e na divisão sexual do trabalho.
 Enquanto algumas atividades são especificamente atribuídas aos homens, outras o são às mulheres. Simultaneamente ocorrem atividades desempenhadas por ambos os sexos.  Entre os Xetá, assim como na maioria das sociedades caçadoras―coletoras, a caça, a construção de habitações e armadilhas, a produção de alguns instrumentos, a segurança e defesa do grupo são atribuições masculinas, enquanto o preparo e distribuição de alimento, transporte da carga e dos alimentos e o cuidado da prole são atribuições femininas. Coleta, tecelagem e cestaria compõem o universo de ambos os sexos.
 Os índios Xetá costumavam dormir ao relento, sobre esteiras posicionadas em tomo de uma fogueira central. Ao redor das pessoas eram fincadas pequenas estacas no solo para evitar que alguém pudesse rolar sobre o fogo. 
 Os pequenos abrigos denominados tapuy eram utilizados somente como proteção para o sol, a chuva ou o frio, e eram habitações que comportavam de quatro a seis pessoas.
Para a montagem do tapuy faziam-se necessário no mínimo dois homens , que amarravam galhos transversalmente a uma estrutura previamente montada com 12 galhos de árvores ou troncos novos e flexíveis, e hastes de bambu, formando uma espécie de cúpula. O teto era recoberto com folhas de palmeira de jerivá, ticando aberta a parte inferior  da habitação. Somente nos dias mais frios  de inverno o tapuy permanecia totalmente vedado.
 Arcos e flechas  eram instrumentos indispensáveis para os Xetá. Confeccionavam arcos com o cerne do ipê duro (araraúte), cujo tronco era desbastado até atingir a dimensão adequada, cerca de três centímetros de diâmetro. A madeira era polida com folhas de embaúba e depois mergulhada no rio durante alguns dias para aumentar sua flexibilidade. Para obter a curvatura do arco, aquecia-se a madeira  sobre brasas e trabalhava-se com o auxilio das mãos e pés. 
 As hastes das flechas eram confeccionadas com bambu e a ponta entalhada com madeira de alecrim. Possuíam diversos tipos de ponta de flecha, como virote, serrilhada  unilateral e lanceolada, as quais utilizavam de acordo com o tipo de caça desejada. 
Tanto o arco quanto a flecha recebiam polimento com uma mistura de casca  de ipê, cinzas e água. Esse procedimento também impermeabilizava a madeira, conferindo-lhe uma coloração ferrugem. A corda do arco era confeccionada pelas mulheres, com fibras de caraguatá.
 O machado de pedra era confeccionado com um cabo de madeira  resistente (1 m de comprimento), onde se encaixava  uma lâmina de pedra polida , de formato alongado  (cerca de 15 cm de comprimento) chamado de itánepraká, era um instrumento indispensável nas atividades quotidianas do grupo . Além de ser empregado na derrubada de árvores, também era utilizado para outros fins, como quebrar cocos e lascar ossos de animais. A extremidade pontiaguda do cabo servia para cavar buracos de estacas e armadilhas de caça, assim como seu cabo servia de alavanca e  formão na confecção de utensílios.
 Na produção de seus artefatos e adornos, os índios utilizavam ossos e dentes de animais. Os ossos da perna de onça eram entalhados e afiados com uma pedra de amolar,
transformando-se em formão. Utilizava-se mandíbulas de roedores para perfurar e escavar madeira, couro, etc. 
 Cada aldeia possuía um ou dois pilões nos quais se processavam alimentos como cocos, frutas, e carne seca de animais. Os pilões podiam ser verticais ou horizontais, sendo
confeccionados a partir de grandes troncos de madeira. Os pilões verticais eram compostos de duas partes lascadas e cavadas do tronco de madeira de jerivá, as quais eram amarradas uma a outra e enterradas no solo. Uma pedra achatada servia como fundo, sendo que a maça era utilizada como mão de pilão. 
O processo de socagem de grãos requeria o trabalho de duas pessoas, as quais revezavam-se, despendendo grande energia para movimentar verticalmente a pesada mão de pilão, conforme o produto a ser socado. Nos horizontais, escavava-se um ou dois orifícios, de tamanho variado, nas extremidades do tronco inteiro. Um outro pilão menor denominado aguakán, espécie de almofariz, era utilizado preferencialmente na moagem de folhas de erva-mate, para o preparo da bebida kukuay.
 A maça, utilizada como arma pelos índios Xetá, tem o formato de um remo , possuindo em média 130 cm de comprimento. Era confeccionada com a madeira de alecrim e recebia o mesmo polimento do arco , dando à maça uma coloração alaranjada. O seu entalhe era feito com o machado de pedra e, para que uma das bordas ficasse afiada, o acabamento final era feito com raspadores líticos.Também constituía meio de comunicação,  pois o lado achatado da lâmina , batido contra o tronco de uma árvore, produzia som claro que podia ser ouvido a grande distância. Servia, assim, como sinal de aviso entre os membros de diferentes grupos de caça.
 Uma outra variedade de maça, a haúra péra, distinguia-se da anterior pelos bordos simétricos. Servia como encosto para dormir e também se utilizava em um ritual para chamar chuva.
 O tembetá é uma peça importante na identificação do individuo como componente daquela sociedade. A identidade masculina remete-se fundamentalmente ao uso do tembetá (batoque labial).
 Diversas matérias primas como ossos, sílex e madeira eram utilizadas na produção do tembetá. Entretanto, mais frequentemente utilizavam o tembetá confeccionado com resina de jabotá, atingindo cerca de 8 cm de comprimento. Com o auxilio de uma espátula de madeira, a resina era aquecida ao fogo e trabalhada. Moldava-se o pino de resina com as mãos, esmerilhava-se com um instrumento litico. Em seguida, a peça recebia um polimento com folhas de embaúba e com a própria oleosidade da pele do artesão, o qual a friccionava contra o rosto. Para usá-lo, os Xetá fixavam o labrete de resina em uma travessa de madeira colocada no lábio inferior.
 Fazia parte da indumentaria dos homens Xetá uma tanga feita com a fibra macia de caraguatá . A tanga era confeccionada pelos homens com  auxilio de suas mulheres, em teares de duas barras. O primeiro passo para o fabrico da tanga era a obtenção dos fios. Colhiam-se folhas de caraguatá, as quais eram deixadas  em repouso em uma lagoa para umedecer e amaciar as fibras. Em seguida, lavava-se e colocava-se para secar as fibras extraídas da polpa. Secas, as fibras eram cardadas em cordões de fios duplos, rolando-os sobre as coxas, tarefa executada pelas mulheres. 
 O segundo passo consistia na construção do tear, feito com duas estacas enterradas e duas travessas amarradas horizontalmente.  Montado o tear, começava o lento processo de fiação. Transpassava-se continuamente ao redor das barras  horizontais a urdidura da fibra de caraguatá, e iniciava-se a tecitura com o auxilio de espátulas de madeira. Após ser cortado, o tecido final era aberto com uma lasca de bambu  e amarrado com nós, resultando na confecção de quatro tangas.









Fonte : http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=111

Transporte
 O transporte e a cestaria assumem importância quando se observa a mobilidade de um grupo caçador-coletor, como é o caso dos Xetá.
 A frequência das mudanças exige a redução ao mínimo da carga, tarefa que cabe às mulheres, permitindo ao homem a liberdade de movimentos necessários para proteger o grupo e obter o alimento no transcurso da viagem. Juntamente com a tralha , as mulheres carregavam os filhos pequenos pendurados nas costas por uma faixa colocada na testa.
 A produção da cestaria era atividade de ambos os sexos, mas principalmente das mulheres, a quem cabia a execução de esteiras de dormir, cestos de carga para o transporte de utensílios da caça e dos frutos silvestres, e ainda das faixas para carregar as Crianças.
 Cabia aos homens confeccionar as pequenas peneiras arredondadas utilizadas no preparo da bebida de cocos de palmeira. Essas peças eram preparadas com lascas de bambu e arrematadas com laços de cipó.



Caça e coleta
 A subsistência dos índios Xetá era garantida através da Caça e da coleta. Sua dieta alimentar baseava-se principalmente em produtos disponíveis durante o ano todo, como cocos de palmeiras, frutos e mel de abelhas silvestres.
 O trabalho para obtenção dos coquinhos de palmeiras de jerivá e macaúba era realizado pelos homens e mulheres da tribo. Os homens escalavam os troncos das palmeiras e derrubavam os cachos ao solo,enquanto as mulheres os colhiam e levavam para a aldeia em seus cestos de carga. As palmeiras permitiam diversos aproveitamentos. Do seu tronco extraia-se o palmito e dos galhos os cocos.
 Os cocos maduros de jerivá eram pilados juntamente com um pouco de água, formando uma polpa grossa. Em seguida, a polpa era peneirada, extraindo-se o sumo. Também costumava-se deixar o sumo fermentar por alguns dias, produzindo-se assim uma bebida alcoólica suave. A medula comestível  do centro da palmeira, era extraída, secada, socada no pilão e peneirada, produzindo-se uma farinha. Com essa farinha eram feitos pequenos bolos assados ao fomo. Diariamente refrescavam-se com uma bebida feita com folhas de erva-mate, denominada kukuay. Para o preparo do kukuay, os Xetá coletavam na mata as folhas de erva-mate, amarravam em grandes fardos,  levavam para a aldeia, onde os galhos da erva-mate eram colocados próximo ao fogo  e ai permaneciam por algum tempo até serem defumadas e as folhas se tomarem secas. Posteriormente as folhas secas eram socadas em um pilão e ingeridas misturadas com água. Querendo adoçar, misturava-se com mel. 
 Entre os alimentos ingeridos estavam diversas espécies de tubérculos, fungos de árvores, frutos silvestres, como banana de macaco, jacaratiá, jabuticaba, gavirova, pitanga. Também faziam parte da dieta Xetá algumas espécies de insetos, como besouros , pirilampos e larvas de coleópteros , obtidos de troncos apodrecidos de palmeiras. Estas iguarias eram consumidas após serem tostadas sobre a brasa.
 Os Xetá caçavam ou capturavam em suas armadilhas diversas espécies de répteis, mamíferos e aves. Entre os animais caçados, destacam-se a queixada, o  caititú, os macacos e aves, como o tucano , arara, jacu e mutum. Nas armadilhas apreendiam o tatu, a cutia, a lontra, o quati, o tamanduá , a jaguatirica, os preás, as antas e as onças, além de cágados, lagartos,e cobras. Os animais capturados eram eviscerados com o auxilio de uma lasca de pedra ou lamina de bambu e chamuscados diretamente  sobre o fogo para retirada dos pelos. Após, a caça era suspensa sobre o fogo em um moquém, e assada lentamente.  As aves eram apanhadas com flechas especiais, de modo a não ferir as penas, e seus ovos consumidos crus ou assados. Diversos tipos de armadilhas para caça eram construídos pelos Xetá, as quais deviam ser proporcionais ao porte dos animais a serem caçados. Algumas eram preparadas com iscas que atraíam o animal, disparando sobre o mesmo um pesado tronco. 
 Utilizavam na construção madeiras flexíveis, cipos e espetos aflados de madeira fincados ao solo. 









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O lúdico
 Como entretenimento, as crianças Xetá brincavam na aldeia, banhavam-se  nos rios e divertiam-se com seus país e os animais de estimação que criavam.
 Os meninos Xetá desde muito cedo aprendiam com seus país as atividades consideradas masculinas, principalmente o manejo do arco e da flecha. Utilizavam como alvo inicialmente as borboletas e os besouros. 
 Os Xetá apreciavam a companhia de animais, que costumavam criar, como gaviões, corujas, morcegos, aves, borboletas, cigarras, besouros.
 As crianças brincavam com mows , pequenas esculturas negras de cera de abelha. Essas esculturas possuíam características zoomorfas representando a fauna local, como cobras , veados, tatus, tamanduás, capivaras, etc., e ocasionalmente antropomorfas. Também eram feitas figuras fantásticas com cabeça de animal e corpo humano, nas quais, às vezes, os órgãos sexuais se apresentavam pronunciados.

Adornos
Os adornos corporais e dos instrumentos estavam continuamente presentes na cultura Xetá. Seus corpos eram pintados por ocasião dos rituaís, assim como adomados. Eram cuidadosamente elaborados o tembetá masculino, os brincos de pluma de pequenos pássaros, os colares de contas e dentes de animais, as faixas de caraguatá usados pelas mulheres nas pemas e pulsos, assim como das crianças. Arcos e flechas  recebiam polimento e adomo de plumária; o machado e a maça eram igualmente polidos. Os objetos de madeira, além de alisados, também eram coloridos com jabotá.Do mesmo modo, os adornos e instrumentos de ossos passavam por demorado processo de alisamento, tomando-os polidos e suaves ao tato. 


A música Xetá
 Há pouquíssima bibliografia a respeito dos índios Xetá e essa escassez é ainda maior quando o assunto a ser estudado é um aspecto de sua vida cultural, como a música.
 Desidério Aytai, etnomusicólogo, descreveu e estudou algumas fitas magnéticas, de cerca de noventa minutos de música vocal e instrumental, gravadas na década de sessenta. O trabalho deste autor serve de base para a presente síntese, o qual classifica a música Xetá em categorias e subcategorias e analisa quanto á escala, à estrutura, à letra, ao ritmo, e a outros aspectos musicais.
 O autor descreve as diferentes peças que servem de instrumentos para a produção de sons, que podem ser propriamente musicais, ou são apenas meios para dar sinais, apitar, alertar, assobiar. Esses instrumentos são: um caramujo, o tembetá, a flauta de bambu, a flauta de Pã, feita de três pedaços de bambu de diferentes comprimentos, e um instrumento desconhecido, possivelmente feito da casca de algum animal (por exemplo, a tartaruga), que produz um
som rouco, áspero, de raspagem. A música ou sons emitidos por estes instrumentos aparentemente não são usados nos atos ritualísticos do grupo, a qual, se mostra unicamente vocal.
 Entre as peças musicais tocadas na flauta de bambu estão: “Tuka executa o toque do porco pequeno, o cateto", e na flauta de Pã"Tuka executa na flauta o toque da antá”.
 A análise dos cantos Xetá oferece maiores informações e riqueza de detalhes do que a parte instrumental. Aponta de imediato para a cosmologia e identidade étnica do grupo, embora não apresente elementos suficientes para esclarecer em profundidade o significado de suas peculiaridades.
 É relativamente extenso o estudo dos chamados Cantos do Urubu, os quais apresentam diferenças entre si e em relação ao Canto das Estrelas, mas que são imperceptíveis ao ouvinte não-Xetá. As pequenas diferenças do texto são uma característica do seu sistema musical. Existem certas qualidades na música que são importantes e que os Xetá reconhecem passando por dois níveis de identidade musical, sendo a primeira a identidade geral, que lhes permite aceitar o canto como um Canto do Urubu; já a segunda identidade musical é específica e lhes permite reconhecer que o canto foi entoado “na voz de alguém”.
 Esse tipo de referência é muito significativo e frequente. A maioria das gravações dos Cantos do Urubu ou das Estrelas são assim expressas: “Tuka canta o Canto do Urubu na voz do irmão de Papantxagwi; Tuka canta o Canto do Urubu na voz de seu pai; Ajatukã canta o Canto do Urubu na voz de seu irmão mais novo; Ajatukã canta o Canto do Urubu na voz de um seu irmão morto; Ajatukã canta o Canto das Estrelas na voz de Mboatxawi”. Entretanto, embora seja possível haver alguma imitação da pessoa referida, entoar o canto na voz de alguém não significa copiar a sua maneira exata de cantar, usando o cantor de bastante liberdade em sua execução.









Fonte: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=111

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