sexta-feira, 4 de setembro de 2015



19 DE ABRIL DIA DO ÍNDIO
 O Dia do Índio é celebrado, nos países americanos, em 19 de abril. Essa data foi escolhida em 1940, no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano.Todo dia 19 de abril comemora-se no Brasil e em vários outros países do continente americano o Dia doÍndio ou o Dia dos Povos Indígenas. Há outra data destinada à mesma finalidade, mas a nível internacional, que foi convencionalmente determinada pela ONU em 1995: trata-se do dia 09 de agosto . Entretanto, este texto tem o objetivo de esclarecer os motivos da escolha do dia 19 de abril como o Dia do Índio.
 O 19 de abril remete ao dia em que delegados indígenas, representantes de várias etnias de países como o Chine e o México, reuniram-se, em 1940, noPrimeiro Congresso Indigenista Interamericano. Essa reunião tinha o propósito de discutir várias pautas a respeito da situação dos povos indígenas após séculos de colonização e da construção dos Estados Nacionais nas Américas.
 No início do século XX, havia um interesse muito grande por essas etnias, sobretudo com o desenvolvimento da etnologia, isto é, o ramo da antropologia que se dedica aos estudos das chamadas “culturas primitivas”. O esforço pela compreensão dos hábitos e da importância dos povos indígenas para história despertou a atenção também para o âmbito das políticas públicas que visassem à salvaguarda desses hábitos e costumes.
 O Primeiro Congresso Indigenista Interamericano serviu como agenda programática para essas políticas públicas. Uma das decisões tomadas foi a escolha do dia em que ocorreu o congresso como o Dia do Índio. A partir do ano seguinte, vários países do continente americano passaram a incluir em seus calendários o 19 de abril como dia de homenagem aos povos nativos ou indígenas.
 A celebração do Dia do Índio tem como propósito também a preservação da memória e a reflexão crítica nas universidades, escolas e demais instituições semelhantes sobre o passado da relação de dominação e conquista das civilizações europeias no continente americano.
 No caso do Brasil, o Dia do Índio foi instituído via decreto-lei, em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas, que exercia o poder de forma autoritária no chamadoEstado Novo. Veja o texto do decreto-lei:
 “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, e tendo em vista que o Primeira Congresso Indigenista Interamericano, reunido no México, em 1940, propôs aos países da América a adoção da data de 19 de abril para o "Dia do Índio",

DECRETA:
Art. 1º É considerada - "Dia do Índio" - a data de 19 de abril.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1943, 122º da Independência e 55º da República.”

GETÚLIO VARGAS
 Vê-se que Vargas, bem como seu corpo de ministros, orientou-se diretamente pela resolução do Congresso Indigenista Interamericano. Havia também, no contexto do Estado Novo, a forte influência de sertanistas e estudiosos de comunidades indígenas, como o Marechal Cândido Rondon, que era também entusiasta do governo de Getúlio.

Fonte: http://www.brasilescola.com/datas-comemorativas/19-abril-dia-Indio.htm

09 DE AGOSTO — DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS

 O Dia Internacional dos Povos Indígenas, mais do que uma simples data comemorativa, é um momento de luta para garantir os direitos dessa população.
 O Dia Internacional dos Povos Indígenas é uma data celebrada mundialmente no dia 09 de agosto e foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 1995 para expressar o reconhecimento internacional em relação a esses povos, que ainda carecem da manutenção de alguns de seus direitos mais básicos.
 Segundo dados da própria ONU, a população indígena no mundo está estimada em cerca de 370 milhões de pessoas, o que representa algo em torno de 5% da população mundial. No entanto, segundo a entidade, esses povos compõem cerca de um terço da população mais pobre do mundo e são expostos a uma série de problemas, que abrangem doenças, discriminação, perseguição, baixa expectativa de vida, ameaças territoriais e poucas garantias de verem cumpridos os seus direitos humanos.
 No dia 07 de setembro de 2007, a ONU também aprovou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas¹, que visa garantir e reafirmar os direitos básicos dessa população em todo o mundo, servindo de instrumento para a imposição de sanções sobre aqueles países e governos que não visarem à manutenção de tais direitos.
 Entre os pontos defendidos por essa declaração, podemos destacar algumas afirmações, tais como:
– Os indígenas estão totalmente inseridos na Declaração Internacional dos Direitos Humanos;
– Os indígenas são iguais perante os demais povos e não podem sofrer qualquer tipo de discriminação;
– O direito à autodeterminação, considerado legítimo para todas as entidades internacionais;
– O direito à nacionalidade própria;
– Os povos indígenas devem ter preservados a sua integridade física e cultural, que devem ser garantidas, inclusive, pelos Estados;
– A população em questão não pode ser removida à força de seus territórios;
– Os indígenas têm direito de utilização, educação e divulgação de seu próprio idioma;
– A população indígena tem o direito de exercer suas crenças espirituais;
– O Estado deve garantir uma ajuda financeira, se necessário, para a manutenção dos direitos básicos dos povos indígenas.
 Além desses, existem vários outros pontos na carta elaborada pela ONU, esta composta por um total de 46 artigos e que se posiciona como uma enumeração dos direitos mais básicos desses povos, mas que não pode ser considerada como um instrumento que imponha um limite ou um teto para tais direitos.
 É importante ressaltar, no entanto, que muitos desses e outros direitos dos povos indígenas não são devidamente cumpridos em todo o mundo. Para se ter uma ideia, 50% de todos os índios adultos do mundo sofrem de diabetes tipo 2. Nos EUA, um índio está 600 vezes mais suscetível a contrair tuberculose do que outro cidadão do país. Na Austrália, a expectativa de vida dos povos aborígenes é 20 vezes menor do que o do restante da população do país. No Brasil, frequentes são os atentatos aos territórios indígenas por posseiros e grileiros, o que ocasiona a erradicação de muitas etnias e troncos linguísticos.
 Portanto, no Dia Internacional dos Povos Indígenas, mais do que simplesmente comemorar a ocasião de uma data e prestar homenagens simbólicas, é preciso que a população empreenda uma agenda de lutas e reivindicações para garantir que os índios do Brasil e do mundo não tenham os seus direitos básicos ainda mais cerceados.

Fonte:http://www.brasilescola.com/datas-comemorativas/dia-internacional-dos-povos-indigenas.htm




Tribo Xetá

 Na Sociedade Xetá, assim como nas demais sociedades tribais no Brasil, homens e mulheres desempenham atividades baseadas na reciprocidade, exigindo portanto a complementariedade. A organização social se estrutura no sistema de parentesco e na divisão sexual do trabalho.
 Enquanto algumas atividades são especificamente atribuídas aos homens, outras o são às mulheres. Simultaneamente ocorrem atividades desempenhadas por ambos os sexos.  Entre os Xetá, assim como na maioria das sociedades caçadoras―coletoras, a caça, a construção de habitações e armadilhas, a produção de alguns instrumentos, a segurança e defesa do grupo são atribuições masculinas, enquanto o preparo e distribuição de alimento, transporte da carga e dos alimentos e o cuidado da prole são atribuições femininas. Coleta, tecelagem e cestaria compõem o universo de ambos os sexos.
 Os índios Xetá costumavam dormir ao relento, sobre esteiras posicionadas em tomo de uma fogueira central. Ao redor das pessoas eram fincadas pequenas estacas no solo para evitar que alguém pudesse rolar sobre o fogo. 
 Os pequenos abrigos denominados tapuy eram utilizados somente como proteção para o sol, a chuva ou o frio, e eram habitações que comportavam de quatro a seis pessoas.
Para a montagem do tapuy faziam-se necessário no mínimo dois homens , que amarravam galhos transversalmente a uma estrutura previamente montada com 12 galhos de árvores ou troncos novos e flexíveis, e hastes de bambu, formando uma espécie de cúpula. O teto era recoberto com folhas de palmeira de jerivá, ticando aberta a parte inferior  da habitação. Somente nos dias mais frios  de inverno o tapuy permanecia totalmente vedado.
 Arcos e flechas  eram instrumentos indispensáveis para os Xetá. Confeccionavam arcos com o cerne do ipê duro (araraúte), cujo tronco era desbastado até atingir a dimensão adequada, cerca de três centímetros de diâmetro. A madeira era polida com folhas de embaúba e depois mergulhada no rio durante alguns dias para aumentar sua flexibilidade. Para obter a curvatura do arco, aquecia-se a madeira  sobre brasas e trabalhava-se com o auxilio das mãos e pés. 
 As hastes das flechas eram confeccionadas com bambu e a ponta entalhada com madeira de alecrim. Possuíam diversos tipos de ponta de flecha, como virote, serrilhada  unilateral e lanceolada, as quais utilizavam de acordo com o tipo de caça desejada. 
Tanto o arco quanto a flecha recebiam polimento com uma mistura de casca  de ipê, cinzas e água. Esse procedimento também impermeabilizava a madeira, conferindo-lhe uma coloração ferrugem. A corda do arco era confeccionada pelas mulheres, com fibras de caraguatá.
 O machado de pedra era confeccionado com um cabo de madeira  resistente (1 m de comprimento), onde se encaixava  uma lâmina de pedra polida , de formato alongado  (cerca de 15 cm de comprimento) chamado de itánepraká, era um instrumento indispensável nas atividades quotidianas do grupo . Além de ser empregado na derrubada de árvores, também era utilizado para outros fins, como quebrar cocos e lascar ossos de animais. A extremidade pontiaguda do cabo servia para cavar buracos de estacas e armadilhas de caça, assim como seu cabo servia de alavanca e  formão na confecção de utensílios.
 Na produção de seus artefatos e adornos, os índios utilizavam ossos e dentes de animais. Os ossos da perna de onça eram entalhados e afiados com uma pedra de amolar,
transformando-se em formão. Utilizava-se mandíbulas de roedores para perfurar e escavar madeira, couro, etc. 
 Cada aldeia possuía um ou dois pilões nos quais se processavam alimentos como cocos, frutas, e carne seca de animais. Os pilões podiam ser verticais ou horizontais, sendo
confeccionados a partir de grandes troncos de madeira. Os pilões verticais eram compostos de duas partes lascadas e cavadas do tronco de madeira de jerivá, as quais eram amarradas uma a outra e enterradas no solo. Uma pedra achatada servia como fundo, sendo que a maça era utilizada como mão de pilão. 
O processo de socagem de grãos requeria o trabalho de duas pessoas, as quais revezavam-se, despendendo grande energia para movimentar verticalmente a pesada mão de pilão, conforme o produto a ser socado. Nos horizontais, escavava-se um ou dois orifícios, de tamanho variado, nas extremidades do tronco inteiro. Um outro pilão menor denominado aguakán, espécie de almofariz, era utilizado preferencialmente na moagem de folhas de erva-mate, para o preparo da bebida kukuay.
 A maça, utilizada como arma pelos índios Xetá, tem o formato de um remo , possuindo em média 130 cm de comprimento. Era confeccionada com a madeira de alecrim e recebia o mesmo polimento do arco , dando à maça uma coloração alaranjada. O seu entalhe era feito com o machado de pedra e, para que uma das bordas ficasse afiada, o acabamento final era feito com raspadores líticos.Também constituía meio de comunicação,  pois o lado achatado da lâmina , batido contra o tronco de uma árvore, produzia som claro que podia ser ouvido a grande distância. Servia, assim, como sinal de aviso entre os membros de diferentes grupos de caça.
 Uma outra variedade de maça, a haúra péra, distinguia-se da anterior pelos bordos simétricos. Servia como encosto para dormir e também se utilizava em um ritual para chamar chuva.
 O tembetá é uma peça importante na identificação do individuo como componente daquela sociedade. A identidade masculina remete-se fundamentalmente ao uso do tembetá (batoque labial).
 Diversas matérias primas como ossos, sílex e madeira eram utilizadas na produção do tembetá. Entretanto, mais frequentemente utilizavam o tembetá confeccionado com resina de jabotá, atingindo cerca de 8 cm de comprimento. Com o auxilio de uma espátula de madeira, a resina era aquecida ao fogo e trabalhada. Moldava-se o pino de resina com as mãos, esmerilhava-se com um instrumento litico. Em seguida, a peça recebia um polimento com folhas de embaúba e com a própria oleosidade da pele do artesão, o qual a friccionava contra o rosto. Para usá-lo, os Xetá fixavam o labrete de resina em uma travessa de madeira colocada no lábio inferior.
 Fazia parte da indumentaria dos homens Xetá uma tanga feita com a fibra macia de caraguatá . A tanga era confeccionada pelos homens com  auxilio de suas mulheres, em teares de duas barras. O primeiro passo para o fabrico da tanga era a obtenção dos fios. Colhiam-se folhas de caraguatá, as quais eram deixadas  em repouso em uma lagoa para umedecer e amaciar as fibras. Em seguida, lavava-se e colocava-se para secar as fibras extraídas da polpa. Secas, as fibras eram cardadas em cordões de fios duplos, rolando-os sobre as coxas, tarefa executada pelas mulheres. 
 O segundo passo consistia na construção do tear, feito com duas estacas enterradas e duas travessas amarradas horizontalmente.  Montado o tear, começava o lento processo de fiação. Transpassava-se continuamente ao redor das barras  horizontais a urdidura da fibra de caraguatá, e iniciava-se a tecitura com o auxilio de espátulas de madeira. Após ser cortado, o tecido final era aberto com uma lasca de bambu  e amarrado com nós, resultando na confecção de quatro tangas.









Fonte : http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=111

Transporte
 O transporte e a cestaria assumem importância quando se observa a mobilidade de um grupo caçador-coletor, como é o caso dos Xetá.
 A frequência das mudanças exige a redução ao mínimo da carga, tarefa que cabe às mulheres, permitindo ao homem a liberdade de movimentos necessários para proteger o grupo e obter o alimento no transcurso da viagem. Juntamente com a tralha , as mulheres carregavam os filhos pequenos pendurados nas costas por uma faixa colocada na testa.
 A produção da cestaria era atividade de ambos os sexos, mas principalmente das mulheres, a quem cabia a execução de esteiras de dormir, cestos de carga para o transporte de utensílios da caça e dos frutos silvestres, e ainda das faixas para carregar as Crianças.
 Cabia aos homens confeccionar as pequenas peneiras arredondadas utilizadas no preparo da bebida de cocos de palmeira. Essas peças eram preparadas com lascas de bambu e arrematadas com laços de cipó.



Caça e coleta
 A subsistência dos índios Xetá era garantida através da Caça e da coleta. Sua dieta alimentar baseava-se principalmente em produtos disponíveis durante o ano todo, como cocos de palmeiras, frutos e mel de abelhas silvestres.
 O trabalho para obtenção dos coquinhos de palmeiras de jerivá e macaúba era realizado pelos homens e mulheres da tribo. Os homens escalavam os troncos das palmeiras e derrubavam os cachos ao solo,enquanto as mulheres os colhiam e levavam para a aldeia em seus cestos de carga. As palmeiras permitiam diversos aproveitamentos. Do seu tronco extraia-se o palmito e dos galhos os cocos.
 Os cocos maduros de jerivá eram pilados juntamente com um pouco de água, formando uma polpa grossa. Em seguida, a polpa era peneirada, extraindo-se o sumo. Também costumava-se deixar o sumo fermentar por alguns dias, produzindo-se assim uma bebida alcoólica suave. A medula comestível  do centro da palmeira, era extraída, secada, socada no pilão e peneirada, produzindo-se uma farinha. Com essa farinha eram feitos pequenos bolos assados ao fomo. Diariamente refrescavam-se com uma bebida feita com folhas de erva-mate, denominada kukuay. Para o preparo do kukuay, os Xetá coletavam na mata as folhas de erva-mate, amarravam em grandes fardos,  levavam para a aldeia, onde os galhos da erva-mate eram colocados próximo ao fogo  e ai permaneciam por algum tempo até serem defumadas e as folhas se tomarem secas. Posteriormente as folhas secas eram socadas em um pilão e ingeridas misturadas com água. Querendo adoçar, misturava-se com mel. 
 Entre os alimentos ingeridos estavam diversas espécies de tubérculos, fungos de árvores, frutos silvestres, como banana de macaco, jacaratiá, jabuticaba, gavirova, pitanga. Também faziam parte da dieta Xetá algumas espécies de insetos, como besouros , pirilampos e larvas de coleópteros , obtidos de troncos apodrecidos de palmeiras. Estas iguarias eram consumidas após serem tostadas sobre a brasa.
 Os Xetá caçavam ou capturavam em suas armadilhas diversas espécies de répteis, mamíferos e aves. Entre os animais caçados, destacam-se a queixada, o  caititú, os macacos e aves, como o tucano , arara, jacu e mutum. Nas armadilhas apreendiam o tatu, a cutia, a lontra, o quati, o tamanduá , a jaguatirica, os preás, as antas e as onças, além de cágados, lagartos,e cobras. Os animais capturados eram eviscerados com o auxilio de uma lasca de pedra ou lamina de bambu e chamuscados diretamente  sobre o fogo para retirada dos pelos. Após, a caça era suspensa sobre o fogo em um moquém, e assada lentamente.  As aves eram apanhadas com flechas especiais, de modo a não ferir as penas, e seus ovos consumidos crus ou assados. Diversos tipos de armadilhas para caça eram construídos pelos Xetá, as quais deviam ser proporcionais ao porte dos animais a serem caçados. Algumas eram preparadas com iscas que atraíam o animal, disparando sobre o mesmo um pesado tronco. 
 Utilizavam na construção madeiras flexíveis, cipos e espetos aflados de madeira fincados ao solo. 









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O lúdico
 Como entretenimento, as crianças Xetá brincavam na aldeia, banhavam-se  nos rios e divertiam-se com seus país e os animais de estimação que criavam.
 Os meninos Xetá desde muito cedo aprendiam com seus país as atividades consideradas masculinas, principalmente o manejo do arco e da flecha. Utilizavam como alvo inicialmente as borboletas e os besouros. 
 Os Xetá apreciavam a companhia de animais, que costumavam criar, como gaviões, corujas, morcegos, aves, borboletas, cigarras, besouros.
 As crianças brincavam com mows , pequenas esculturas negras de cera de abelha. Essas esculturas possuíam características zoomorfas representando a fauna local, como cobras , veados, tatus, tamanduás, capivaras, etc., e ocasionalmente antropomorfas. Também eram feitas figuras fantásticas com cabeça de animal e corpo humano, nas quais, às vezes, os órgãos sexuais se apresentavam pronunciados.

Adornos
Os adornos corporais e dos instrumentos estavam continuamente presentes na cultura Xetá. Seus corpos eram pintados por ocasião dos rituaís, assim como adomados. Eram cuidadosamente elaborados o tembetá masculino, os brincos de pluma de pequenos pássaros, os colares de contas e dentes de animais, as faixas de caraguatá usados pelas mulheres nas pemas e pulsos, assim como das crianças. Arcos e flechas  recebiam polimento e adomo de plumária; o machado e a maça eram igualmente polidos. Os objetos de madeira, além de alisados, também eram coloridos com jabotá.Do mesmo modo, os adornos e instrumentos de ossos passavam por demorado processo de alisamento, tomando-os polidos e suaves ao tato. 


A música Xetá
 Há pouquíssima bibliografia a respeito dos índios Xetá e essa escassez é ainda maior quando o assunto a ser estudado é um aspecto de sua vida cultural, como a música.
 Desidério Aytai, etnomusicólogo, descreveu e estudou algumas fitas magnéticas, de cerca de noventa minutos de música vocal e instrumental, gravadas na década de sessenta. O trabalho deste autor serve de base para a presente síntese, o qual classifica a música Xetá em categorias e subcategorias e analisa quanto á escala, à estrutura, à letra, ao ritmo, e a outros aspectos musicais.
 O autor descreve as diferentes peças que servem de instrumentos para a produção de sons, que podem ser propriamente musicais, ou são apenas meios para dar sinais, apitar, alertar, assobiar. Esses instrumentos são: um caramujo, o tembetá, a flauta de bambu, a flauta de Pã, feita de três pedaços de bambu de diferentes comprimentos, e um instrumento desconhecido, possivelmente feito da casca de algum animal (por exemplo, a tartaruga), que produz um
som rouco, áspero, de raspagem. A música ou sons emitidos por estes instrumentos aparentemente não são usados nos atos ritualísticos do grupo, a qual, se mostra unicamente vocal.
 Entre as peças musicais tocadas na flauta de bambu estão: “Tuka executa o toque do porco pequeno, o cateto", e na flauta de Pã"Tuka executa na flauta o toque da antá”.
 A análise dos cantos Xetá oferece maiores informações e riqueza de detalhes do que a parte instrumental. Aponta de imediato para a cosmologia e identidade étnica do grupo, embora não apresente elementos suficientes para esclarecer em profundidade o significado de suas peculiaridades.
 É relativamente extenso o estudo dos chamados Cantos do Urubu, os quais apresentam diferenças entre si e em relação ao Canto das Estrelas, mas que são imperceptíveis ao ouvinte não-Xetá. As pequenas diferenças do texto são uma característica do seu sistema musical. Existem certas qualidades na música que são importantes e que os Xetá reconhecem passando por dois níveis de identidade musical, sendo a primeira a identidade geral, que lhes permite aceitar o canto como um Canto do Urubu; já a segunda identidade musical é específica e lhes permite reconhecer que o canto foi entoado “na voz de alguém”.
 Esse tipo de referência é muito significativo e frequente. A maioria das gravações dos Cantos do Urubu ou das Estrelas são assim expressas: “Tuka canta o Canto do Urubu na voz do irmão de Papantxagwi; Tuka canta o Canto do Urubu na voz de seu pai; Ajatukã canta o Canto do Urubu na voz de seu irmão mais novo; Ajatukã canta o Canto do Urubu na voz de um seu irmão morto; Ajatukã canta o Canto das Estrelas na voz de Mboatxawi”. Entretanto, embora seja possível haver alguma imitação da pessoa referida, entoar o canto na voz de alguém não significa copiar a sua maneira exata de cantar, usando o cantor de bastante liberdade em sua execução.









Fonte: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=111

Tribo Kaingang

O contato dos Kaingang com a sociedade envolvente teve início no final do século XVIII e efetivou-se em meados do século XIX, quando os primeiros chefes políticos tradicionais (Põ’í ou Rekakê) aceitaram aliar-se aos conquistadores brancos (Fóg), transformando-se em capitães. Esses capitães foram fundamentais na pacificação de dezenas de grupos arredios que foram vencidos entre 1840 e 1930. Entre os desdobramentos dessa história, destacam-se o processo de expropriação e acirramento de conflitos, não apenas com os invasores de seus territórios, mas intragrupos kaingang, uma vez que o faccionalismo característico dos grupos jê foi potencializado pelo contato. Os Kaingang vivem em mais de 30 Terras Indígenas que representam uma pequena parcela de seus territórios tradicionais. Por estarem distribuídas em quatro estados, a situação das comunidades apresenta as mais variadas condições. Em todos os casos, contudo, sua estrutura social e princípios cosmológicos continuam vigorando, sempre atualizados pelas diferentes conjunturas pelas quais vêm passando.

População

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Estimava-se uma população kaingang de 25.875 pessoas vivendo em 32 Terras Indígenas (Funasa, 2003). No entanto, verifica-se a presença de famílias vivendo nas zonas urbanas e rurais próximas às TIs. Na grande Porto Alegre-RS surgiram três grupos kaingang que passaram a viver na cidade e um já conseguiu local para construir a aldeia. São grupos formados por uma família extensa inteira ou parte da que permaneceu na TI de origem.  Na zona rural a presença kaingang se dá por unidades familiares ou individualmente, que, pela impossibilidade (econômica ou política) de viverem nas TIs, passaram a viver como trabalhadores não qualificados em fazendas e sítios das regiões próximas às aldeias. Se computadas todas essas famílias, o contingente populacional kaingang poderá chegar a 30 mil.
É importante registrar que os censos realizados até o presente são bastante precários porque as famílias kaingang mudam-se freqüentemente de aldeia e de TI pelas mais variadas razões e essa dinamicidade dificulta a sua visibilidade. O crescimento vegetativo é considerado bastante alto e, mesmo com elevado índice de mortalidade infantil, quando os censos são divulgados, estes já se encontram defasados.

Arte e cultura material

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Os relatos de viajantes e pesquisadores do passado registraram a riqueza das artes e da cultura material kaingang. Fabricavam armas de guerra e de caça, tecidos de fibras de urtiga brava, talas de caraguatá, cestos de taquara de vários tamanhos e formas para fins diversos, enfeites e adornos e utensílios de cerâmica e porongos (cabaças).

Armas

As principais armas de guerra constituíam-se em arcos (uy), flechas (dou) e lanças (urugurú). As pontas das flechas eram de osso de macaco bugio (gòg) e mico (kajér), mais tarde, passaram a ser de ferro obtido dos brancos. Os arcos eram feitos de pau d’arco (Tabebuia Chrysantha). Antes da aquisição do ferro os Kaingang “forjavam o bastão do arco em forma de curva, friccionando-o com pedra arenosa e com lâminas de pedra, e o alisavam com as ásperas folhas de umbaúba (Cecropia sp.)”, aquecendo-o depois contra o fogo e untado com gordura (Métraux, 1949). As lanças eram guarnecidas com pontas de ferro obtidas junto aos brancos. Alguns arcos mediam de 2.10 a 2,40m, mas podiam chegar a 2,70m. Cabeças de flechas eram feitas de taquara larga, de varas farpadas, de varas de madeira, apontadas com afiada ponta de osso de macaco ou veado, ou ainda com arrebites de madeira, para pegar passarinhos.
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Ainda segundo Métraux, as clavas dos Kaingang no Paraná eram bastões curtos e cilíndricos, recapeados com trançado. Os índios decoravam as clavas com gravação a fogo e cada adulto masculino possuía um estojo de cestaria. Já as clavas dos Kaingang no Estado de São Paulo tinham a cabeça abaulada e mediam de 1,50 a 1,80 m.
Horta Barboza também descreveu as armas dos Kaingang esclarecendo que eles usavam arcos de dimensões e forças proporcionadas ao emprego a que se destinassem: os de guerra tinham cerca de dois metros e também serviam para caçar animais de grande porte como a onça e a anta e eram tão grossos que a mão mal podia abarcar. Os destinados a matar macacos e outros animais de menor porte eram muito mais leves, curtos e finos. A dimensão das flechas não devia exceder a altura da pessoa que as fabricasse para seu uso.
Atualmente alguns Kaingang fabricam arcos e flechas apenas como enfeites para venderem como souvenir no mercado. Não fazem mais guerras e, quando caçam – atividade cada vez mais rara – utilizam-se de espingardas.

Instrumentos musicais

Entre os instrumentos musicais dos Kaingang, Borba (1908) cita os seguintes: buzinas de chifre de boi ou taquara (oaquire), flauta de taquara (coqué), maracás (xii; xik-xi), apitos de taquara e outro instrumento de taquara fina encabada em uma cabaça furada nas extremidades (õtõrêrê). Encontramos quase todos esses instrumentos na Terra Indígena Xapecó-SC durante as cerimônias do kikikoi (ritual dos mortos).
Nas festas profanas atuais encontramos músicos kaingang que aprenderam a tocar violão, acordeão e até guitarra elétrica. Há vários grupos musicais que tocam nos bailes e também nas missas e cultos religiosos nas várias igrejas que existem dentro das aldeias kaingang.

Grafismo kaingang

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Pesquisas recentes sobre grafismo kaingang realizadas pelo antropólogo Sérgio Baptista dos Santos (2001, NIT-UFRGS) vêm revelando aspectos etnográficos importantes, aqui apresentados de forma sintética. Os grafismos aparecem em uma grande variedade de suportes como trançados, tecidos, armas, utensílios de cabaça, cerâmica, troncos de pinheiros, etc. e nos corpos dos Kaingang.
Os trançados revelam formas e grafismos relacionados à cosmologia dualista dos Kaingang, evidenciando a organização simbólica dos mundos social, natural e sobrenatural em metades kamé e kairu. Téi ou ror são os nomes das marcas (ra) ou grafismos (kong gãr) que identificam, respectivamente, as metades kamé e kairu.
Como regra geral, os grafismos, morfologias e posições/espaços considerados compridos, longos, altos, abertos são denominados téi e representam a metade kamé. Por outro lado, os grafismos, morfologias e posições/espaços vistos como redondos, quadrangulares, losangulares, baixos, fechados, são chamados de ror e representam a metade kairu. Alguns grafismos, no entanto, podem apresentar fusão dos padrões téi e ror e são denominados ianhiá (marca misturada) e apareciam nos mantos de urtiga (kurã; kurú) de alguns caciques, nos troncos de pinheiros marcadores dos limites dos territórios de coleta de pinhão de cada grupo local, nas flechas de alguns caciques e ainda nas pinturas corporais.
Os grafismos kaingang também aparecem nas pinturas rupestres e na cerâmica arqueológica Proto-Jê Meridional. Para Baptista da Silva, a ligação mais fundamental e importante para a percepção deste sistema de representações visuais é aquela que vincula os grafismos da cerâmica arqueológica (reconhecimento Proto-Jê do sul) com os grafismos rupestres do Brasil Meridonal, possibilitando que o conjunto assim formado possa ser comparado com os grafismos históricos das sociedades Jê Meridionais. Tal comparação é amplamente possível em relação aos Kaingang. Quanto aos Xokleng, ela é parcialmente possível” (Baptista da Silva, 2001:13).

Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/2345

Tribo Guarani





Quando da chegada dos espanhóis e portugueses na América, por volta de 1500, os Guarani já formavam um conjunto de povos com a mesma origem, falavam um mesmo idioma, haviam desenvolvido um modo de ser que mantinha viva a memória de antigas tradições e se projetavam para o futuro, praticando uma agricultura muito produtiva, a qual gerava amplos excedentes que motivavam grandes festas e a distribuição dos produtos, conforme determinava a economia de reciprocidade. Quando os europeus chegaram ao lugar que hoje é Assunção, no Paraguai, ficaram maravilhados com a "divina abundância" que encontraram.
Os Guarani vêm seu mundo como uma região de matas, campos e rios, como um território onde vivem segundo seu modo de ser e sua cultura milenar. Do território tradicional, historicamente ocupado pelos Guarani, que se estende por parte da Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil, os Guarani ocupam hoje apenas pequenas ilhas. Seu território, o solo que se pisa, é um tekoha, o lugar físico, o espaço geográfico onde os Guarani são o que são, onde se movem e onde existem. Esses povos guardam tradições de tempos muito antigos, que trazem na memória que vão atualizando em seu cotidiano, através de seus mitos e rituais.
Os povos Guarani são muito semelhantes nos aspectos fundamentais de sua cultura e organizações sociopolíticas, porém, diferentes no modo de falar a língua guarani, de praticar sua religião e aplicar as diversas tecnologias na relação com o meio ambiente. Tais diferenças, que podem ser consideradas pequenas do ponto de vista do observador, cumprem o papel de marcadores étnicos, distinguindo comunidades políticas exclusivas. Esses grupos reconhecem a origem e proximidade histórica, lingüística e cultural e, ao mesmo tempo, diferenciam-se entre si como forma de manter suas organizações sociopolíticas e econômicas.
Atualmente, os Guarani seguem vivendo onde sempre viveram, apesar de inumeráveis pressões, ameaças e mortes. Diversos grupos Guarani foram se estendendo por esta parte da América, mediante sucessivas migrações aliadas ao crescimento demográfico, que começaram há uns dois mil anos atrás e que continuam até a atualidade. No território brasileiro vivem os Mbya, Kaiowá e Guarani (ou Nhandeva). Os Guarani e Kaiowá estão em Mato Grosso do Sul.
Um dos maiores males que os Guarani têm que suportar é a invasão e destruição de sua terra, a ameaça contra seu modo de ser, a expulsão, a discriminação e o desprezo que vieram com a chegada dos "outros", dos colonos e dos fazendeiros e, mais recentemente, dos produtores de soja e de açúcar.

O cerco aos Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul: erva-mate, gado, soja e cana-de-açúcar
No Brasil, a situação dos Guarani e Kaiowá sofreu profundas alterações logo após a Guerra do Paraguai (entre 1864-1870). Após este período inicia-se a ocupação sistemática do território guarani por diversas frentes de exploração econômica, no sul do então estado de Mato Grosso. Podemos afirmar que a partir dessa data a história dos Guarani e Kaiowá, nessa região, vem fortemente marcada pelos rumos dessa exploração econômica: inicialmente, da erva-mate, a seguir a implantação dos projetos agropecuários e de colonização, a soja e correspondente mecanização, na década de 1970, e, finalmente, a cana-de-açúcar , a partir da década de 1980.
Estar em meio a um campo sem árvores ou junto a extensas monoculturas de soja ou cana de açúcar é um grande mal. A mata, a água e outros elementos do ambiente são espaços ocupados por uma série de seres espirituais, com os quais os Guarani e Kaiowá necessitam interagir para reproduzir seu modo de vida. Esses povos não são nômades nem vivem somente da caça, da coleta e da pesca. São agricultores, e bons agricultores, que produziam abundância de comida.
Ao mesmo tempo em que viram suas terras de ocupação tradicional sendo transformadas e as matas derrubadas, os Guarani e Kaiowá têm sido incorporados sistematicamente como reserva de mão-de-obra fundamental nas diversas etapas dessa exploração regional.
Erva-mate, a primeira riqueza extraída do território indígena - década de 1880 a 1940
Ao perceber a grande quantidade de ervais nativos na região, Thomas Laranjeira solicitou do Governo Federal, em 1882, o arrendamento das terras no sul do então Estado de Mato Grosso para explorá-las e, fundou, em 1892, a Companhia Mate Laranjeira. Com a República, as terras devolutas – aquelas que originalmente pertenciam à União – passaram para a responsabilidade dos estados, o que favoreceu os interesses da Cia. Mate Laranjeira. Dessa forma, o Decreto nº 520, de 23/06/1890, ampliou os limites da posse da Cia. Mate Laranjeira e deu-lhe o monopólio na exploração da erva-mate em toda a região, que compreendia o território de ocupação tradicional dos Guarani e Kaiowá. Essa atividade foi responsável pelo deslocamento de inúmeras famílias e núcleos populacionais, tendo em vista a colheita da erva mate, e pela disseminação de várias doenças com grave impacto sobre a saúde dos índios.

O confronto com colonos e projetos agropecuários
Em 1943, o então Presidente da República, Getúlio Vargas, criou em pleno território indígena a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) que tinha como objetivo possibilitar o acesso à terra a milhares de famílias de colonos, migrantes de outras regiões do país. A criação dessa e de outras colônias agrícolas nacionais situou-se dentro da política da "Marcha para o Oeste", buscando incorporar novas terras e aumentar a produção de alimentos e produtos primários necessários à industrialização a preços baixos. No caso havia, também, claro interesse em povoar a fronteira, onde a Cia. Mate Laranjeira mantinha forte presença.
A CAND, criada pelo Decreto-lei no. 5.941, de 28 de outubro de l943, abarcava uma área não inferior a 300 mil hectares, a ser retirada das terras da União no então Território Federal de Ponta Porã. A instalação dos colonos em terras ocupadas pelos Guarani e Kaiowa provocou problemas diversos e graves, pois questionou a presença indígena e impôs a sua transferência para outros espaços. A implantação da CAND alavanca, também, a ocupação agropecuária e a expansão da presença não indígena e da infraestrutura de serviços na região.
A partir da década de 1950 acentua-se a instalação de empreendimentos agropecuários nos demais espaços ocupados pelos Kaiowá e Guarani, ampliando o processo de desmatamento desse território. Número significativo de comunidades indígenas é obrigado a abandonar suas aldeias e deslocar-se para dentro de oito reservas de terra demarcadas pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio, que deu origem à Funai), acentuando-se o confinamento das aldeias.
Entre os anos de 1915 e 1928, o SPI demarcou oito pequenas extensões de terra para usufruto dos Guarani e Kaiowá, perfazendo um total de 18.124 hectares, com o objetivo de liberar o amplo território ocupado pelos Guarani e Kaiowá no atual estado de Mato Grosso do Sul. As reservas impuseram o controle político da população, submetida a uma série de práticas que tinham como objetivo principal a assimilação dos indígenas à sociedade nacional. Foi uma estratégia governamental para submeter esses povos aos projetos de ocupação e exploração dos recursos naturais por frentes não indígenas.
A introdução da soja, a partir da década de 1970, junto com a ampla mecanização das atividades agrícolas, provocou o fim das aldeias-refúgio nos fundos de fazendas, nas quais os Kaiowá e Guarani resistiam. A produção comercial em monocultura comprometeu a biodiversidade, substituindo os restos de mata, capoeiras e campos. Com a criação do Pró-álcool, no início da década seguinte, são instaladas as primeiras usinas de produção de açúcar e álcool em Mato Grosso do Sul. Passam a ser frequentes as denúncias de trabalho escravo e de superexploração dos trabalhadores indígenas e não indígenas engajados nessa atividade.
A partir da década de 1980, os Guarani e Kaiowá, com forte apoio de setores da sociedade civil, recuperam a posse de 11 terras indígenas, áreas de antigas aldeias, que juntas somam um total de 22.450 hectares, já devidamente demarcadas e em sua posse. Inúmeras outras comunidades que também perderam suas terras durante o processo de colonização dessa região estão exigindo do governo o mesmo procedimento, apoiadas no texto da Constituição Federal de 1988.
Cabe destacar, no entanto, que a maior parte da população Guarani e Kaiowá, cerca de 80%, segue vivendo nas oito reservas demarcadas pelo SPI, nas quais há forte concentração dos serviços de saúde, educação e assistência oferecidos pelo governo. O caso mais grave diz respeito às terras indígenas de Dourados, Amambai e Caarapó – que juntas somam 9.498 hectares de terra e abrigam mais da metade do total de 45 mil Guarani e Kaiowá residentes em Mato Grosso do Sul – esse dado nos permite compreender a extensão do confinamento imposto aos Guarani e Kaiowá.
É necessário também considerar que a manutenção de milhares de famílias indígenas se tornou cada vez mais dependente do trabalho assalariado nas usinas, o que coloca o desafio de encontrar outras formas de sustentabilidade econômica para os Guarani e Kaiowa em Mato Grosso do Sul.

As consequências atuais da expansão econômica
O processo de perda territorial e consequente confinamento em espaços extremamente exíguos de um contingente populacional muito superior ao padrão historicamente conhecido pelos Kaiowá e Guarani impôs profundas limitações à sua economia de reciprocidade, relacionada a aspectos fundamentais de sua política e cultura. A inviabilização da itinerância e o rápido esgotamento dos recursos naturais reduziram muito a qualidade de vida nos seus tekoha (terras tradicionais).
O confinamento trouxe o desafio de adequar a organização social dos Guarani e Kaiowá à nova situação marcada pela superpopulação numa mesma região, pela sobreposição de parentelas e transformações de ordem econômica. O confinamento na reserva resultou assim num processo que limita drasticamente as possibilidades de reprodução do ava reko, o sistema social guarani. Este processo está na raiz dos principais problemas sociais e impasses vividos pelos Kaiowá e Guarani hoje.
Abordar a questão das terras Guarani e Kaiowá no Brasil é trazer a público a situação desse povo: há menos de um hectare por pessoa, chegando a situações absurdas como na Terra Indígena Dourados, com mais de 12 mil pessoas em 3.500 hectares. Lá vivem mais de 40 grupos familiares distintos. Expulsos de outras aldeias, foram obrigados a deslocar-se para essa área que, proporcionalmente, apresenta altos índices de violência.
Em 1978, um grupo de Kaiowá e Guarani que viviam em Rancho Jacaré, área da Companhia Mate Laranjeira, em Laguna Caraapã, foi levado à força para a terra indígena Kadiwéu, no município de Porto Murtinho. Depois de um tempo no desterro, iniciaram uma longa e penosa volta à sua própria terra donde haviam sido expulsos. Não demorou e outras aldeias iniciaram a retomada de suas terras de ocupação tradicional. Daí em diante, a articulação e mobilização dos Kaiowá Guarani, com o apoio de aliados da sociedade civil, possibilitou o retorno a mais de uma dezena de territórios tradicionais. Hoje permanecem em aproximadamente 20 aldeias tradicionais retomadas a partir da década de oitenta. Porém, de várias delas foram retirados à força, com inúmeros mortos e feridos. Em consequência desse processo de dispersão, constata-se a presença de membros de uma parentela dispersos em várias terras indígenas da região. Aguardam a oportunidade de retornar à terra onde nasceram, onde estão enterrados seus antepassados e onde está a base de sua cultura, visão de mundo e perspectiva de futuro.
A situação das terras e a pressão exercida pelos Kaiowá e Guarani fizeram com que nos últimos anos a Funai colocasse essa questão como prioridade em seu planejamento. Nesse sentido, em 2008, a Funai instituiu seis Grupos de Trabalho (GTs) para a identificação e delimitação de terras Guarani e Kaiowá no Cone Sul do estado de Mato Grosso do Sul.



Fonte:
Guarani Retã – Povos Guarani na Fronteira Argentina, Brasil e Paraguai – 2008

Costumes
O povo Guarani é agricultor cultivando principalmente milho, batata doce, aipim, amendoím, erva mate, etc
Sua culinária é criativa e interessante.
Tudo o que o Guarani faz e constrói tem haver com espiritualidade, expressa através da música.
Instrumentos: flauta, instrumentos de percussão, chocalho etc...
Eles têm várias crenças, o Deus deles é considerado um herói.
Eles são silenciosos, mas suas palavras são ricas em imagem e expressão. Com lendas, crenças, músicas, podemos resgatar conhecimentos ancestrais.As músicas significam cultura e refinamentos espirituais.
O artesanato é sempre preocupado em retratar a mata e os seres vivos.Eles matam,pescam, mas mesmo assim têm amor pela natureza.
Fazem tecelagens com pedaços de peles como: cobras, onças e outros.
Os objetos são feitos de madeira e de argila.
Nas aldeias dos índios haviam chefes e caciques, que eram curadores, etc

Famílias
As famílias, preferencialmente formadas do casamento entre parentes, eram poligâmicas e o número de mulheres era o indicador de status do homem.
Estas, ainda, podiam ser trocadas conforme interesses e circunstâncias, o que dá um sinal da inferioridade com que eram vistas.
Os homens deviam estar livres para caçar, pescar, fazer guerra, fabricar móveis, providenciar utensílios (cestos, redes, arcos, flechas, etc) e derrubar árvores para que as mulheres fizessem plantação de milho, mandioca, feijão, amendoim abóbora, batata doce, fumo e outras culturas. Elas deveriam, também, manter a limpeza da casa, recolher frutos, fabricar farinha, azeite, bebidas fermentadas, preparar barro e, ainda, quando necessário, acompanhar os guerreiros para servir de cozinheiras.
Os Guarani apresentavam concentrações marcadas por maior solidariedade e maior unidade entre o mesmo grupo, mas em relação a outros grupos caçadores mantinham lutas permanentes.

Cultura
Os pajés orientavam os índios em relação às suas doenças, eram responsáveis pela remoção das enfermidades e faziam isso mediante os poderes e a sabedoria que dominavam.
Para os Guarani, existe um Deus Supremo (Ñanderú guarú) e invisível, que criou tudo e tudo governa. Admitem semi-deuses como os justiceiros que amparam cada um dos seres viventes. Acreditam, também, que a alma é imortal e que o espírito dos defuntos permanece certo tempo no corpo morto com grande poder sobre os vivos.


Fonte: http://www.arara.fr/BBTRIBOGUARANI.html

Links interessantes

Para auxiliar na sua pesquisa sobre os Índios, segue algumas dicas de links:

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xeta
http://www.funai.gov.br/
http://trabalhoindigenista.org.br/
http://www.survivalinternational.org/povos/indios-isolados-brasil
http://www.museuparanaense.pr.gov.br